Do Prólogo
1.
Como os anjos são criaturas muito nobres e participam, para nossa utilidade,
na tarefa de aperfeiçoar-nos no Amar e Conhecer Deus Nosso Senhor, é
muito conveniente que nos esforcemos, com o nosso poder, em amar, conhecer,
obedecer e honrar os anjos benignos. Por esse motivo, compomos este pequeno
livro, o qual dividimos em seis partes:
A Primeira Parte é para provar a existência dos anjos.
A Segunda Parte é para mostrar a disposição dos anjos.
A Terceira Parte é sobre a fruição que os anjos experimentam
em Deus.
A Quarta Parte é da locução que os anjos mantêm entre
si e conosco.
A Quinta Parte é da glória que os anjos benignos têm.
A Sexta Parte é da pena que os anjos malignos têm, os quais chamamos
demônios.
2.
A Primeira Parte é dividida em sete, isto é, nas sete Dignidades
de Deus, pelas quais tentamos provar a existência dos anjos. São
elas: Bondade, Grandeza, Poder, Sabedoria, Amor, Justiça e Perfeição.
A condição da existência da Primeira Parte é mostrar de que modo as sete Dignidades ordenam, regulam e são princípios de todo o Livro, e como as explicações que nele se encontram se constituem e se regulam por estes sete Princípios - as sete Dignidades - e mostrem como os Princípios melhor se convêm uns com os outros.
3.
A Segunda Parte é dividida em cinco, que são: essência,
ente, substância, propriedades e condições.
A condição da existência desta Segunda Parte é mostrar como se ordenam e regulam suas partes sob as Divinas Dignidades e como, gradativamente, se ordenam entre si.
4.
A Terceira Parte é dividida em três: como os anjos fruem Deus pelo
ato da inteligência, como fruem Deus pelo ato da vontade e como fruem
Deus pelo ato da memória.
A condição da existência desta Terceira Parte é mostrar como a fruição das sete Dignidades Divinas tem lugar nas sete propriedades dos anjos, as quais provêm da influência das Divinas Dignidades. Estas propriedades são criadas e chamadas com um nome semelhante ao das Dignidades, porque cada Dignidade incute, à sua semelhança, uma propriedade nos anjos benignos; assim como por exemplo, a Bondade incriada incute a bondade criada nos anjos, a Grandeza incriada incute a grandeza criada, etc.
5.
A Quarta Parte é dividida em três: como cada anjo fala consigo
mesmo, como os anjos falam uns com os outros e como falam com os homens.
A condição da existência desta Quarta Parte é mostrar como a locução dos anjos segue a regra das sete Dignidades em suas sete propriedades, e como se efetua mediante os atos da inteligência, vontade e conveniência.
6.
A Quinta Parte é dividida em seis: como os Anjos possuem Glória
em Deus, como possuem Glória em si mesmos, como uns tem Glória
nos outros, como os Anjos benignos têm Glória da pena dos Demônios,
como possuem Glória da Glória dos homens justos e como têm
Glória dos homens pecadores, que são danados.
A condição da existência desta Quinta Parte é para que a Glória dos Anjos esteja nas sete Dignidades de Deus, e os Atos da Inteligência, Vontade e Memória estejam na entidade nascente, e que através daqueles Atos exista mérito nas Propriedades dos Anjos, segundo o que se convém.
7.
A Sexta Parte é dividida em seis, conforme o sentido contrário
da Glória que os Anjos benignos possuem, segundo as seis partes ditas
acima.
A condição da existência desta Sexta Parte é para que os Demônios tenham pena no sentido contrário da condição dos Anjos benignos.
Começa a Primeira Parte, onde se prova a existência dos Anjos
Para provar a existência dos Anjos convêm que sejam feitas oito provas, isto é, que se prove onde existem a Inteligência, a Vontade e a Memória no Ente, e que o Ente seja Substância abaixo das Potências as quais são Atos pelos quais estejam as sete Propriedades ditas acima. Logo, provada a existência deste Ente, tentaremos provar a existência dos Anjos, a qual prova atribuímos oito razões, das quais esta é a primeira, e assim as outras sucessivamente.
I. Da Bondade
A Bondade existe em Deus com Grandeza, Poder, Sabedoria, Amor, Justiça e Perfeição, sendo a Bondade amável porque a Amabilidade se convém em Grandeza, Poder e etc. com a Bondade. E se a Bondade e a Amabilidade não são convenientes, também não seriam convenientes a maioridade de bem na Grandeza e a menoridade de bem seria conveniente contra a Justiça, o Amor, a Grandeza e a Perfeição. E a Amabilidade não seria conveniente com a Justiça, o Amor, a Grandeza e a Perfeição, e isto é inconveniente e contra as condições deste Livro.
E porque a Bondade e a Amabilidade são convenientes, e sem a Inteligência não poderiam ser convenientes com a Grandeza, a Sabedoria, o Amor, a Justiça e a Perfeição — segundo as condições e a concordância da Bondade, Grandeza, Amabilidade, Inteligência, etc. — logo é necessário que seja conveniente que Deus tenha criado o Ente onde esteja a Inteligência, sendo materializada na Bondade, Grandeza, Poder, etc., e estes Entes sejam os Anjos, os quais indagamos através dos Atos das Divinas Dignidades.
II. Da Grandeza
A Grandeza existe em Deus com a Bondade, o Poder, a Justiça, etc., a qual Grandeza é tão grande na Bondade, no Poder, etc., que convém ser objeto da Inteligência criada para que a entenda grandemente na Bondade, no Poder, etc.
E se a Grandeza não fosse conveniente objeto da Inteligência, a ignorância conviria com a Grandeza, a Inteligência com a menoridade, sendo a ignorância conveniente com a Bondade, com o Poder, etc., que seriam convenientes com a Grandeza, e a Justiça seria conveniente com a injustiça, e a imperfeição com a Perfeição, e a privação de bem com a Bondade, e isto é inconveniente.
No entanto, demonstramos que é conveniente que a Inteligência criada materialize a Grandeza, a qual não poderia ser objeto perfeito sem a Vontade, que ama a grande materialização da Inteligência, a qual não poderia materializar perfeitamente sem a Vontade, que entende e ama a Grandeza da Bondade, do Poder, etc.
III. Do Poder
O Poder de Deus existe segundo Sua própria Grandeza, Bondade, Sabedoria, Amor, Justiça e Perfeição. Por isso, a Grandeza pode criar a Inteligência e a Vontade, e convém que o Poder tenha criado a Grandeza e que seja conveniente com a Inteligência e a Vontade de tal maneira que a Conveniência possa elevar o Poder pelo objeto que existe na Bondade, Grandeza, etc.
Porque, se não fossem convenientes, teriam imperfeição ao elevar o Poder Divino a se materializar, o qual seria contrário à Bondade, Grandeza, Sabedoria, etc. se não desse à Inteligência e à Vontade tudo isso que melhor convém aos objetos criados, os quais movem a Inteligência, Vontade e Conveniência, saindo a Conveniência da Inteligência e da Vontade, fruindo a Inteligência com a Vontade, o Poder da Bondade com a Grandeza, etc., sendo conveniente que as sete Propriedades criadas na Inteligência e na Vontade sejam moldadas pelas sete Dignidades incriadas. E convém que esta Conveniência seja uma igual suposição à Inteligência e à Vontade para criar o Poder, a Bondade, etc., de tal Forma que o Poder incriado não seja a maior Grandeza incriada da Bondade, da Sabedoria, etc., e entendido pela Inteligência e amado pela Vontade.
IV. Da Sabedoria
A Sabedoria concorda com a Bondade, a Grandeza, o Poder, etc. Logo, se a Inteligência, a Vontade e a Conveniência são Propriedades distintas e unidas em um Ente sem distinção nem confusão — estando naquele Ente cada Propriedade em participação e comunicação unidas umas com as outras, recebendo a influência das Dignidades Divinas, estando cada uma das três Propriedades em si mesma, naquele Ente e nas setes Propriedades comuns criadas, formadas à semelhança das sete Dignidades incriadas — segue-se maior concordância que existam e sejam usadas nas criaturas a Sabedoria com a Bondade, a Grandeza, etc.
Porque existindo a Inteligência na entidade sem a participação da Vontade e da Conveniência — num Ente que seja entidade distinta pela Inteligência, Vontade e Conveniência, e que estejam ajustadas e que sejam a Essência daquele Ente, no qual esteja a Bondade, a Grandeza, etc. — o Ente não poderia ser tão grande para entender a Bondade, a Grandeza, o Poder, a Sabedoria, o Amor e a Perfeição de Deus, como entende, e é incorruptível, imortal e existe com a Vontade e a Conveniência, e o mesmo se segue com a Vontade e a Conveniência.
E porque o Ente se convêm com a Sabedoria de Deus para que melhor seja objeto à Inteligência, Vontade e Conveniência na Grandeza de si mesmo e da Bondade, Poder, etc., isso significa que todas as três Potências e Propriedades existem nos Entes, os quais dizemos que são os Anjos, que estão sujeitos a seus Princípios, os quais são a Inteligência, a Vontade e a Conveniência, que, por sua vez, estão sujeitos, por efeito, à Bondade, à Grandeza de Deus, etc.
V. Do Amor
O Amor deseja que aqueles Entes — os Anjos — sejam Substâncias sujeitas às três Potências, tendo cada Potência seu próprio Ato, isto é, que o Entender seja Ato da Inteligência, o Desejar da Vontade, e o Convir, o Amar e o Entender da Conveniência. E se o Amor não desejasse isso, existiria contra a Bondade, a Grandeza, etc., que ordenam que a Essência dos Anjos exista através da Inteligência, da Vontade e da Conveniência, assim como a Matéria e a Forma ou os quatro elementos que estão na Essência dos corpos elementais compostos de Matéria e Forma e aqueles corpos estão imóveis nos Entes. E porque cada elemento retém aí (no Amor) sua Virtude e nele está mesclado, aquele Ente — os Anjos — é convertido em Substância, estando os Atos abaixo e sujeitos às Potências.
Por esse motivo, a Virtude dos Anjos mescla-se ao corpo e diversifica-se através das Potências e Atos. Logo, como é impossível que o Amor exista contra a Bondade, a Grandeza, etc., na Vontade do Amor — e no que convém ordenar segundo a Grandeza da Bondade, do Poder, etc. — manifesta-se a Substância dos Anjos, na qual se mescla a Virtude de Sua Essência. E porque é Substância abaixo das Potências, a diversidade da Inteligência, da Vontade e da Conveniência conserva-se nas Potências e nos Atos, sem os quais a distinção que existe na Essência dos Anjos seria confusa, e estes não seriam agentes com Atos que conservassem suas Condições.
VI. Da Justiça
A Justiça e os Atos da Inteligência, da Vontade e da Conveniência, que fruem a Bondade, a Grandeza, etc., são convenientes. E se a Justiça fosse contra tais Atos, seria contra as Potências, privando de seus Atos o Poder e o Amor contra a Bondade, a Grandeza, a Sabedoria, a Perfeição, pela qual privação de Atos as Potências seriam confusas, e a Entidade dos Anjos não se converteria em Substância, e sua Essência seria mesclada e confusa, na qual, a Inteligência, a Vontade e a Conveniência privariam a Virtude através da menoridade da Justiça contra a Grandeza da Bondade, do Poder, etc.
E porque isso é impossível, logo, pelo contrário da impossibilidade, está provado que cada Propriedade nos Anjos retém sua própria Virtude, pela qual (Virtude) cada uma possui seu próprio Ato, pelo qual Ato está provada a existência da Potência, que não poderia existir sem o Ato, o qual Ato seria impossível na privação da Potência se aquela Potência estivesse em privação.
VII. Da Perfeição
A Perfeição é conveniente com as Potências através dos Atos, e por isso a Perfeição da Bondade, da Grandeza, etc., cria Potências no Ente Angelical para que nele existam Atos pelos quais a Perfeição da Bondade, da Grandeza, etc. se materialize nas Potências, que não poderiam ser materializados sem os Atos. E se os Atos estivessem em privação pelo desejo do Amor — pois são convenientes com o Poder e a Justiça — a Perfeição seria privada naquele desejo com a imperfeição do Poder e da Justiça, e a imperfeição concordaria com a Perfeição da Justiça e do Poder do que com o desejo do Amor, que são uma só coisa em Deus. E porque isso é uma contradição, portanto, pela provação da contradição é manifestado que as Potências dos Anjos são Atos de necessidade segundo o que se convém à Perfeição da Bondade, da Grandeza, etc., sendo tais Atos o Entender, o Desejar e o Convir.
VIII. Da Bondade
A Bondade da Grandeza, do Poder, etc., possui concordância com a semelhança de si mesma na Grandeza, no Poder, etc., de tal modo que, por aquela semelhança, seja conhecida e amada na Grandeza, no Poder, etc. E por essa concordância, a Divina Bondade com a Grandeza do Poder, etc., dão Propriedades que são grandes na Bondade, no Poder, etc., as quais Propriedades são dadas aos Entes angelicais de tal modo que os Anjos recebem a influência das Dignidades que, sem as Propriedades, não poderiam influir na Graça, na Benção, nem dar manifestação de si mesmas (as Dignidades) nos Anjos.
E se as Propriedades da Bondade não dessem mais que o Poder, seu desejo seria contrário à Justiça, Grandeza, Perfeição, Sabedoria e Poder, e tal contrariedade privaria na Bondade a Grandeza da Justiça, da Perfeição, da Sabedoria e do Poder. Por essa privação, a privação de bem, que é mal, participaria com a Bondade, a Grandeza, etc. Logo, como isso é impossível, a Bondade convém com a necessidade, mas não do Ato da necessidade, mas pela necessidade da Benignidade, da Grandeza, etc., que a Bondade dá de sua semelhança à Grandeza, etc., por que a semelhança criada é condicionada ao Ente com tais Propriedades que possam com elas fruir as Dignidades incessantemente, e em qualquer lugar que estejam e em todos os tempos, sem fim e sem outro meio. E se tal Ente não pudesse receber tais Propriedades, existiria na Bondade a imperfeição da Grandeza, do Poder, etc., e tal privação é impossível.
Pelas oito razões acima ditas, provamos a existência dos Anjos segundo a necessidade do uso que as Dignidades merecem ter pela nobreza de si mesmas nas criaturas. E provamos sua existência através dos Anjos, porque a privação de muitos Anjos não bastaria para um Anjo receber tudo o que é conveniente a muitos Anjos segundo a Grandeza da Bondade, do Poder, etc. E porque o homem ou qualquer outra criatura possui a disposição que convém ter segundo o que é conveniente ao Ente dado e criado pelas Dignidades, está provado o que os Anjos são, e que possuem a Entidade e as disposições acima provadas pelos Atos das Dignidades.
Da Segunda Parte
Esta Parte é dividida em cinco, conforme o que está contido no Prólogo, isto é: a Essência, o Ente, a Substância, as Propriedades e as Condições. Logo, primeiramente diremos da Essência e por conseguinte, diremos das outras.
I. Da Essência
Esta parte sobre a Essência é dividida em três, que são: a Inteligência, a Vontade e a Conveniência. Primeiramente trataremos da Inteligência.
I.1. Da Inteligência
A Vontade, recebendo a Virtude e a influência das Dignidades — que informam a ela as Propriedades, isto é, a Bondade, a Grandeza, o Poder, etc. — deseja estas Condições à Inteligência, isto é, que a Inteligência seja Forma pura por si sendo uma Propriedade pessoal para que não seja um entrave ao Entendimento, e que por si mesma e por sua própria Virtude entenda incessantemente as Dignidades de Deus, e que de sua própria Entidade e natureza possua a Bondade, a Grandeza, etc., para perceber tudo o que entende a intelectiva pela graça das Dignidades.
Se a Vontade não desejasse estas Condições tão altas à Inteligência, e desejasse que ela entendesse mais ordinariamente, estaria contra a Justiça e contra a Grandeza do Poder e da Bondade, do Poder, da Sabedoria e da Perfeição, e contra a Grandeza de si mesma. E se a Vontade desejasse altas Condições à Inteligência, e a Inteligência não as possuísse, a Vontade seria passiva e defeituosa em seu Ato, e privaria a Grandeza da Bondade, etc., e as Dignidades não informariam à Vontade as Propriedades com a Perfeição da Bondade, da Grandeza, etc., e seriam contrárias à Grandeza de sua semelhança na Inteligência e na Vontade. E tal contrariedade da Divina Grandeza estaria na Bondade, no Poder, etc., estando também nas criaturas contra si mesma, e isso é inconveniente. Portanto, as Condições que a Vontade deseja estão na Inteligência, sem as quais a Vontade não teria a Perfeição em suas próprias Condições.
A Conveniência convém à Inteligência e à Vontade. E convém que ela dê Condições para que a Inteligência entenda e apreenda mais altamente como o calor quando aquece, a visão quando vê, a claridade quando ilumina e a memória quando relembra. Isto porque o calor não pode aquecer sem o meio e as formas ativas e passivas presentes nos corpos compostos, nem a visão pode ver sem a cor, a claridade e o ar, nem a luz pode iluminar sem o ar e o calor, nem a memória pode relembrar sem o corpo humano, e a ignorância passiva não pode participar da apreensão dos objetos.
Por isso, todas estas Potências são defeituosas em Grandeza, Poder, Perfeição e Bondade, e esta imperfeição não é suficiente para tornar a Inteligência conveniente à Dignidade, que é parte essencial dos Anjos e que convém à Inteligência de tal maneira, que os Anjos, com todos os meios, possam entender a Divina Essência e suas Dignidades.
A Conveniência convém à Inteligência, para que esteja acima da Essência dos Anjos em Bondade, Grandeza, etc. Por isso, a Justiça Divina dá à Inteligência as Condições convenientes a Ela. Porque se não o fizesse, seguir-se-ia que a Grandeza, criada da Justiça, Bondade, Poder, etc., conviria melhor com a maioridade da Justiça de Deus em Bondade, etc., e isso é impossível. E essa impossibilidade significa que convém à Inteligência estar condicionada para entender as Dignidades de Deus e das criaturas.
I.2. Da Vontade
A Inteligência entende que, se a Vontade é Forma essencial simples e Propriedade pessoal distinta de si e da Conveniência — sendo Forma, Propriedade e Ato puro sem Matéria — mais alta está quando deseja as Dignidades, e pode conter em si maior Grandeza da Bondade, do Poder, etc., quando deseja através de sua Virtude e Propriedade, sendo a Bondade, a Grandeza, etc., aquilo que deseja.
O mesmo acontece com a Inteligência e a Conveniência. E se a Vontade possui estas Condições tão elevadas para entender a Inteligência e as Condições da Conveniência pelo Poder da Grandeza na Bondade, Sabedoria Criada, etc. — e pela Graça do Poder incriado na Grandeza, Sabedoria, etc. — ela entende a Inteligência e concorda com a Inteligência e a Conveniência na Grandeza da Bondade, do Poder, etc.
E se a Vontade não possui as Condições ditas acima, é defeituosa em seu desejo, e concorda com a menoridade da Bondade, etc., tornando insuficiente a Grandeza Divina no uso da Perfeição na Grandeza da Bondade Criada, etc. E neste enfraquecimento as Propriedades tornam-se defeituosas na entidade da Vontade para receber os Atos das Divinas Dignidades através de objetos. Como isso é inconveniente, provamos que aquelas Condições estão na Vontade, que entende a Inteligência com a Grandeza da Bondade, etc.
A Conveniência da Vontade convém com a Grandeza da Justiça, na Bondade, no Poder, etc. A Vontade é condicionada de tal maneira que suas Condições concordam com as Condições da Inteligência, para que a Conveniência possua perfeitas Condições pela concordância da Vontade e da Inteligência na Grandeza da Bondade, do Poder, etc.
E se tais Condições da Conveniência não fossem convenientes na Vontade, a Conveniência teria uma Grandeza de Justiça defeituosa, e por essa falta, a Vontade não relembraria a influência das Divinas Dignidades segundo a Grandeza da Justiça, e este enfraquecimento é inconveniente — segundo a Grandeza da Inteligência, da Vontade e da Conveniência — com o uso que a Justiça de Deus possui na Bondade, na Grandeza, etc.
E porque a Conveniência lembra suas Condições perfeitas na Vontade, esta deseja possuir o uso das Dignidades nas criaturas com a Inteligência, a Conveniência e a Grandeza da Justiça, etc., na Bondade e na Grandeza de Deus. E a Vontade é Propriedade simples possuindo Ato puro e livre na Grandeza da Justiça, etc. E a Justiça deseja seus Atos, os quais possui na Bondade, na Grandeza, etc., participando com os Atos da Inteligência e da Conveniência na Entidade Angelical na qual as três Propriedades pessoais são Essências.
Logo, segundo o que foi dito acima, a Vontade e a Conveniência se condicionam, por que possuem tudo o que desejam e convém segundo a Conveniência da Grandeza, na Bondade, no Poder, etc. E se tal Vontade fosse assim condicionada no homem, o homem teria Vontade com a Justiça em tudo o que desejasse, e teria tudo o que desejasse com seu próprio Poder, recebendo a influência por meio da Bondade, da Grandeza, etc., de Deus.
I.3. Da Conveniência
A Inteligência entende, segundo sua Vontade, que a Conveniência é Propriedade pessoal sendo Forma simples e distinta sem Matéria, possuindo Ato puro na Grandeza da Bondade, do Poder, etc., de tal modo que busque com a Justiça receber a influência das Dignidades Divinas. Por essa influência, a Grandeza da Bondade, do Poder, etc., é perfeita, na qual Perfeição não estaria sem a influência e as Condições ditas acima.
E por que a Inteligência entende a Conveniência da Justiça na Grandeza da Bondade, do Poder, etc., entendendo as Condições acima ditas, isso demonstra que as Condições que Inteligência entende a Conveniência e a Justiça estão em Conveniência, porque se não estivessem, seria coisa impossível que a Inteligência concordasse com a Grandeza da Bondade, no Poder, etc., entendendo as Condições que à Conveniência convém.
A Vontade desejou que a Conveniência fosse uma suposição igual a si e à Inteligência, na Grandeza da Bondade, do Poder, etc. Porque se a Vontade desejasse que a Conveniência fosse maior que a Inteligência ou a si mesma — para que fosse uma Propriedade nascida das duas — ela também desejaria que a Conveniência e a Inteligência fossem maiores, e seu desejo seria contrário à sua Grandeza e à Grandeza da Inteligência.
E porque tal contrariedade engendra na Vontade a injúria e a privação da Grandeza, na Bondade, no Poder, etc., a Vontade demonstra desejo igual ao da Conveniência em si com a Inteligência na Grandeza da Bondade, do Poder, etc. Por essa Grandeza — e porque a Vontade é seu Poder quando deseja com a Perfeição da Grandeza, da Sabedoria, etc. — a Conveniência é simples suposição igual à Inteligência e à Vontade, assim como um homem, filho de seu pai e de sua mãe, que é igual a ambos na entidade da espécie humana. E se a Conveniência não seguisse o que deseja a Vontade com a Justiça, a Grandeza de seu uso estaria nas Dignidades possuidoras de defeitos contra a Bondade, o Poder, etc. na Vontade, e isso é inconveniente.
Dissemos sobre a Inteligência, a Vontade e a Conveniência e provamos suas Condições. Agora convém dizer e provar quando todas as três Propriedades estão ao mesmo tempo em um Ente composto, que são os Anjos e todas as três são sua Essência, e segundo suas Condições convém estarem condicionados.