RITUAL DE INICIAÇÃO NA CAVALARIA SECULAR

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          Não possuímos, ainda, qualquer documento que possibilite a descrição de um Ritual de Iniciação em uma Ordem Templária, Hospitalária ou Teutônica; portanto, o texto a seguir trata do modo como um Escudeiro deve receber a Cavalaria Secular (tradicional).

            Fonte:            O Livro da Cavalaria (publicado originalmente em 1.276)  
            Autor:             Ramón Lull  (1.235 – 1.315)

            Em primeiro lugar, antes do Escudeiro entrar para a Ordem de Cavalaria, ele deve confessar-se das faltas que tenha cometido contra Deus, a quem deverá servir na Ordem. E estando sem pecados, deve receber o Corpo de Cristo em Sacramento, conforme convém à Religião.

            Para armar-se um Cavaleiro, convém que se prepare uma festa das que são celebradas todos os anos, para que em razão da festa reúnam-se àquele dia muitos homens ao lugar onde o Escudeiro haverá de ser armado e todos roguem à Deus por Graças e Bênçãos ao Escudeiro, com as quais ele será leal à Ordem da Cavalaria!

            Deve o Escudeiro recolher-se em Vigília, em honra ao santo da festa que se celebra.

            Por toda a noite que antecede ao dia em que deverá ser armado, há de permanecer na Igreja e velar, estando em oração e contemplação, ouvindo falar de Deus e da Cavalaria. Mas se ao contrário, prefere continuar a ouvir as danças e os cantos que falam das tentações e outras coisas pecaminosas, já estará ingressando na Cavalaria para a desonrar e a menosprezar!

            No dia da Ordenação, convém que se cante missa solene, onde o Escudeiro deverá aproximar-se do Altar para ajoelhar-se diante do Sacerdote, que ali está representando Deus, e entregar-se à Ordem de Cavalaria para que possa através dela servir à Deus. E convém que se obrigue e se submeta a honrar e manter com todo o seu poder a Ordem da Cavalaria! Também convém que neste dia haja um Sermão, no qual se expliquem os Quatorze Artigos fundamentais da Fé (1);os Dez Mandamentos da Lei de Deus (2); os Sete Sacramentos da Igreja (3) e o que mais for pertencente à Fé.

            Tudo isso o Escudeiro deve manter bem guardado na memória, para saber combinar tudo aquilo que seja da Fé Católica, ao seu Ofício de Cavaleiro!

            Sobre o que foi mencionado anteriormente, mais o que for pertencente à Cavalaria, deve pregar o Sacerdote. E o Escudeiro que desejar ser Cavaleiro, deve rogar à Deus por sua Graça e Benção, a fim de que possa vir a ser por toda a vida, um servidor Dele.

            Quando o Sacerdote tiver terminado tudo o que concerne ao seu Ofício convém então, que o Príncipe ou Alto Barão, que quer fazer do Escudeiro um Cavaleiro, tenha em si mesmo a Virtude da Cavalaria, para que possa, pela Graça de Deus, dar Virtude e Ordem ao Escudeiro que as queira receber; mas se o Cavaleiro em si mesmo não é bem ordenado e virtuoso, não poderá dar o que não tem, e será de pior condição que as plantas, que têm virtude de dar a sua Natureza umas às outras, e o mesmo acontece com os animais e as aves.

            O Cavaleiro malfeitor que quer desordenadamente fazer multiplicar sua Ordem, injúria faz à Cavalaria e ao Escudeiro; e daquilo pelo qual ele deveria ser desfeito quer fazer o que não é conveniente que se faça. E é pela falta destes Cavaleiros que acontece algumas vezes do Escudeiro que recebe a Cavalaria não ser tão auxiliado pela Graça de Deus e nem pela Virtude da Cavalaria; por isto é insensato qualquer Escudeiro que receba a Cavalaria por tais Cavaleiros!

            O Escudeiro deve ajoelhar-se diante do altar e levantar para Deus os seus olhos corporais e espirituais, erguendo suas mãos. E o Cavaleiro deve cingir-lhe a espada, para significar Castidade e Justiça. E como significado de Caridade, deve beijar o Escudeiro e dar-lhe uma bofetada, para que este se lembre do que prometeu e do grande Cargo a que fica obrigado, e da Grande Honra que recebe pela Ordem de Cavalaria.

            Depois que o Cavaleiro Espiritual e o Cavaleiro Terreno tenham cumprido o seu Ofício de fazerem um novo Cavaleiro, este deverá cavalgar e mostrar-se às pessoas, para que todos saibam que ele é um Cavaleiro e que se obriga a manter e a defender a Honra da Cavalaria; porque quanto mais pessoas souberem da sua ordenação à Cavalaria, maior refreamento terá o novo  Cavaleiro em fazer qualquer falta que seja contra a sua Ordem. Neste dia deverá ser feita uma grande festa, com cavalgadas e combates e tudo o mais que seja próprio das festas da Cavalaria. E o Senhor que o armou deve dar-lhe presentes, como ele também deve  presentear os Cavaleiros que ali se encontrem.

            O novo Cavaleiro deve ser generoso neste dia, porque quem recebe tão grande dádiva como é a Ordem da Cavalaria, a desmente se não der conforme recebeu.

Todas estas coisas e muitas outras que seria muito longo contar, pertencem à conceder-se ao Escudeiro a Cavalaria!

                                                
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