...in order to dream, You gotta still be asleep.
--Bob Dylan, "When You Gonna Wake Up?" (1979)(espero que não se importe com a ironia)
O sétimo tipo de sonhos, a que chamo sonho lúcido, parece-me o mais interessante e digno de observação e estudo. Desde tipo experimentei e anotei 352 casos no periodo de 20 de Janeiro de 1898 a 26 de Dezembro de 1912.
Nestes sonhos lucidos a reintegração das funções psiquicas é tão completa que o sonhador recorda o seu dia a dia e a sua condição, atinge um estado de perfeito conhecimento, e é capaz de dirigir a sua atenção e atingir actos de vontade. E contudo, o sono é relaxado, profundo refrescante. Tive a minha primeira experiência em Junho de 1897, do seguinte modo. Sonhei que flutuava sobre uma paisagem com algumas árvores, sabendo apenas que era Abril, e reparei que a perspectiva dos ramos se alterava normalmente. Então reflecti, durante o sono, que nunca seria capaz de invnetar ou construir uma imagem tão intrincada como os movimentos de perspectiva dos pequenos ramos vistos enquanto flutuava sobre eles. ---Frederik van Eeden, A Study of Dreams (1913)
Sonho lúcido é sonhar sabendo que está a sonhar. Ou seja, é o seu sonho vulgar em que pensa durante o seu sonho que está a sonhar. Os interessados nele tentam controlar e guiar o sonho. Para que quer guiar o seu sonho? Basicamente pelo divertimento, embora alguns sonhadores da Nova Era acreditem que o sonho lúcido é essencial ao crescimento pessoal.
Ouçamos o Dr Stephen LaBerge, o criador do movimento do sonho lúcido da Nova Era:
Quero-lhes falar de um tesouro sem preço que pertence a cada um de nós. Este tesouro, a capacidade de sonhar lucidamente, dá-nos a oportunidade de experimentar tudo o que é imaginável-- vencer limitações, medos, pesadelos, explorar a nossa mente, gozar aventuras e atingir uma consciência transcendente.
Os sonhos normais dão-nos uma ideia das possibilidades, através da sua violação das regras da vida acordado, e q sua oferta ocasional de visões da nossa vida. A arte de sonhar é uma habilidade que se desenvolve, e acredito que o seu mais elevado nivel é encontrado no sonho lucido. Sonhos lucidos são sonhos em que sabe que está a sonhar e tem consciência de que o sonho é uma criação sua.
Com a lucidez vem uma tremenda sensação de liberdade-- o conhecimento de que pode fazer tudo, solto das leis da fisica ou da sociedade. Uma das primeiras alegrias é voar, livre das restrições da gravidade. A partir daí, as pessoas descobrem os vastos poderes do sonho lucido na transformação das suas vidas.
Se precisa de ajuda com o seu sonhar lúcido, pode comprar livros, cassetes, instrumentos de indução como o DreamLight (1.200 dólares), o DreamSpeaker (150 dólares) ou o NovaDreamer (275 dólares), do LaBerge's Lucidity Institute. Se não é suficiente, por 1.000 dólares pode participar num seminário numa universidade como a de Stanford onde pode aprender as ultimas técnicas para o ajudar a orientar o seu inconsciente, uma necessidade absoluta para viver uma boa vida. Por apenas mais 35 dólares pode obter mais 2.0 unidades de crédito na educação através do Institute of Transpersonal Psychology.
Porque é que o Dr. LaBerge não defende o sonho acordado para fazer estas maravilhas é explicado por van Eeden. Quando estamos acordados, somo lógicos e limitados pelas regras sociais e leis a natureza. Portanto devemos dormir para libertar a imaginação. Ou tomar drogas, acho.
Á primeira vista, parece que os Lucidos querem ensinar-nos a controlar o conteudo dos sonhos. Mas não é o caso.
Lucidez e controle dos sonhos não são a amesma coisa. É possivel ser lucido e ter pouco controle no conteudo do sonho e vice-versa. Contudo, o tornar-se lúcido num sonho é aumentar as possibilidades de influenciar o desenrolar deste. Quando sabe que está a sonhar, é provável que escolha uma actividade só possivel em sonhos. Tem sempre opção sobre o controle que quer exercer. Por exemplo, pode continuar o sonho, mas sabendo que está a sonhar. Ou pode tentar mudar tudo. Pode transformar um objecto noutro ou uma cena noutra. A habilidade do sonhador em conseguir isto parece depender da sua confiança. Se acredita que não pode fazer algo num sonho, o mais certo é não o conseguir. [FAQ]
Tudo parece muito interessante e pode mesmo ser verdadeiro, mas onde está a prova de que quanto mais sonhos lúcidos temos melhor ficamos? Devemos dormir para sempre e viver num mundo de sonhos? Que prova de que o sonho lúcido tenha influência numa pessoa que está acordada? E porquê encorajar uma pessoa a fazer em sonhos o que não querem ou não podem fazer quendo acordados? E porquê a afirmação de que estes sonhos permitem voar "libertos das limitações da gravidade"? LaBerge parece apontar que o que conta é controlar o sonho para fazer coisas como voar. Mas o que quero perceber é como sonhar mais que voo ou que surfo transforma a minha vida? Posso perceber o gozo destes sonhos e isso é bom. Mas penso que posso ter os meus sonhos sem pagar milhares ao Dr. LaBerge.
Eis como outra pessoa, não dada aos exageros da Nova Era, explica as alegrias do sonho lúcido:
Está a sonhar. De repente, algo acontece que o faz perceber que está a sonhar. Talvez ocorra algo que não pode suceder na realidade, como voar, ou ter sexo com a pessoa dos seus "sonhos". Portanto, ei-lo consciente de que está a dormir e a sonhar, mas a coisa continua! Sabe que isto não é real, e que não sofrerá consequências, pelo que pode fazer o que lhe der na gana. Violação, pilhagem, massacres! Tem o que pediu. Se o pensa, tem-no. O seu pensamento controla as acções. O unico problema é que fica tão excitado que acorda! [The Lame Man's Guide to the Dream-World]
Violação! Pilhagem! Massacres! Estou tão excitado! E acordo! Que faço agora?! Mais violação, pilhagem, massacres?? Não, não. Seria errado. A sociedade não o aprova. Volte para a cama.
Outro apresenta testemunhos de outros tão lúcidos como ele. Parece que o objectivo principal dos sonhos lúcidos é ter sonhos lúcidos, especialmente voar e ter experiências indistinguiveis de Experiências Fora do Corpo. A maior parte não quer violações nem pilhagens. Sabendo isso, penso que podemos dormir mais descansados.
Para concluir, deve-se notar que há quem negue que exista um estado como o sonho lúcido (e.g., Malcolm, Dreaming London: Routledge, 1959.) Não negam que nos nossos sonhos, por vezes, sonhemos que temos consciência de que estamos a sonhar. O que negam é que haja um estado do sonho especial chamado "sonho lúcido". O sonho lúcido não é, portanto, mais uma acesso à "consciência transcendente" do que os pesadelos. Mas LaBerge provou que estavam errados:
Nós fornecemos a verificação instruindo sujeitos para assinalarem o sonho lúcido com acções de sonho específicas que podem ser observadas num polígrafo (i.e., movimento dos olhos, etc). Usando este método, LaBerge, Nagel, Dement & Zarcone (1981) ("Psychophysiological correlates of the initiation of lucid dreaming," Sleep Research, 10, 149.) relataram que a ocorrência de sonhos lúcidos durante o período REM do sono foi demonstrado para cinco sujeitos.
Isto deve ser prova suficiente para acordar os cépticos.
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