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||| | Validade e verdade é o título de uma das rubricas da unidade lógico-argumentativa do actual programa (ano lectivo de 2001/02) de Introdução à Filosofia do 11º ano |
||| | Acerca da ligação argumentação/validade, ver o texto A lógica filosófica de Júlio Sameiro |
Tem-se considerado muitas vezes que a veracidade é equivalente à “verdade moral”, em oposição à “verdade ontológica”, “verdade metafísica”, “verdade gnosiológica”, “verdade lógica”, “verdade semântica” ou quaisquer outras formas de “verdade”. “À verdade moral — escreveu Leibniz — há quem chame veracidade” (Nouveaux Essais, IV, v, 11). De qualquer modo, a veracidade é o tipo de verdade que compromete quem a propõe, quer seja, como se disse no passado, moralmente, quer seja, como se disse em tempos mais recentes, “existencialmente”. Por este motivo se fez equivaler igualmente a veracidade à sinceridade. O que parece indicar que é possível ser veraz e não dizer a verdade. Mas não parece possível ser veraz sem vontade de dizer a verdade e, mais, de fazer tudo o que for possível para a dizer. Por isso não se pode ser veraz mentindo, como também se não pode sê-lo mantendo uma atitude de indiferença, ou de despreocupação, pela verdade.
A veracidade pode conceber-se como “veracidade para consigo próprio”, mas é mais adequado pressupor na veracidade a existência de dois ou mais sujeitos. Neste último caso, a veracidade dá-se primariamente na relação com o outro, na relação entre “eu” e “tu” — para usar terminologia de Buber. Karl Löwith chamou a atenção para o que Rosenzweig qualificou de “um novo modo de pensar”, que começou com a tese de Feuerbach segundo a qual “a base da verdade não é a autoconsciência do Eu, mas a relação mútua entre o tu e o eu”, e que se desenvolveu em vários autores contemporâneos (o citado Rosenzweig, Heidegger, Jaspers, etc.). Ora bem, a “veracidade” adquire pleno sentido dentro deste “novo modo de pensar”, uma vez que o seu fundamento se encontra na relação pessoal.
Tem-se discutido por vezes em que relação se encontra a verdade com a veracidade. Alguns autores antepõem a primeira à segunda: só porque se pode dizer a verdade, argumentam, é que se pode ser veraz. Outros, pelo contrário, antepõem a segunda à primeira, isto é, consideram que a veracidade é a fonte da verdade. É o que sucede, por exemplo, com Nietzsche, para quem a verdade (Wahrheit) é uma abstracção quando comparada com o carácter concreto da veracidade (Wahrhaftigkeit). Nalguns casos, antepôs-se completamente a veracidade à verdade; é o que acontece comUnamuno, para quem ser veraz é muito mais fundamental que dizer a verdade. Em certas ocasiões “veracidade” e “verdade” parecem ser o mesmo; exemplo disso, temo-lo emDescartes quando indica repetidamente que Deus não nos pode enganar — ou, como escreve frequentemente (por exemplo, nas Meditações Metafísicas, IV e VI), Dieu n’est point trompeur. Este último tipo de veracidade é chamada por vezes “veracidade divina” e é ela que constitui o fundamento das “verdades eternas”. Para alguns autores, a veracidade é a seu modo uma correspondência: a correspondência do afirmado (verdade) com a prova do afirmado". (FERRATER MORA, José - Diccionario de Filosofía, verbete Veracidad. Trad. de António Gomes).
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Validade e verdade é o título de uma das
rubricas da unidade
lógico-argumentativa do actual programa (ano lectivo de 2001/02) de
Introdução à Filosofia do 11º ano.
||| Ver
ainda verbetes Sabedoria
(onde se questiona a relação entre amor pela verdade e amor pelo belo), Validade e
Veracidade
(neste último verbete distinguem-se, e relacionam-se, os 2 conceitos e são
referidos diferentes tipos de verdade).
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"(...) dizer que uma coisa 'é verdade' significa que é 'mais verdade' que
outras afirmações concorrentes sobre o mesmo tema, embora não represente a
verdade absoluta. Por exemplo, é 'verdade' para os europeus que Colombo
descobriu o continente americano (embora sem dúvida, navegadores vikings
tivessem chegado antes, mas sem dar a mesma publicidade ao feito nem tentar a
colonização)" (F. Savater - As
Perguntas da Vida, p. 61).
||| Na
conferência Potenciar a
razão, Fernando Savater analisa as relações entre a razão e a
verdade, estabelecendo diferentes campos de verdade.
O livro As
Perguntas da Vida, do mesmo autor, tem um capítulo (o 2º) dedicado às
verdades da razão ["O objectivo do método racional é estabelecer a
verdade" (p. 53)]: nele se esclarece o conceito de razão, se
distinguem os vários tipos/campos de verdade, se analisam as várias posições
(e as objecções contra as mesmas) sobre a verdade -- o cepticismo,
o relativismo,
os defensores da "revelação".
||| Num dos seus
capítulos, o livro A ciência tal qual se
faz analisa o tema Demonstração
e verdade.
||| O "artigo" Da Filosofia à
Ciência aborda a questão da verdade nas perspectivas da ciência e da
filosofia.
||| A Inquisição
é exemplo dos perigos de transformação de uma verdade em dogma
(ler o texto As fogueiras da
Inquisição semeiam o terror). Sobre aqueles perigos ler ainda o
texto Tolerância.
||| Veja ainda o texto O sentido da
vida, de Fernando
Savater e a unidade programática O sentido da
existência do programa de Introdução à Filosofia (ano lectivo
2001/02).
||| Ver Morte.
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Citação: "(...)a vida não é uma regra de três simples"
(Luís Osório
in Pública de 14/2/99)
||| Vida e risco: ver texto (e
questão) em teste do 12º ano: A vida é risco
e a filosofia, também e a resposta à
pergunta (do mesmo teste) "E se vivêssemos para sempre?".
2. Uma resistência tenaz ao virtual provém de um dos mais paralisantes lugares-comuns da nossa época, desses que as cabeças falantes da televisão gostam de reproduzir como se estivessem a enunciar a definitiva religião da verdade. A saber: o "virtual" seria o contrário do "real" e, a breve prazo, o instrumento da sua trágica morte.
3. Pobre e culpabilizante pensamento (ou falta dele). Como lidar com o virtual -- inclusive, se for caso disso, para o rejeitar - sem compreender que ele não passa de uma outra dimensão do real? Trata-se de lidar já não com as matérias do real, mas com um real imaterial. Ou seja: o virtual é uma forma de relação que trabalha sobre a ausência.
4. Ausência de quê? Das próprias entidades entre as quais se estabelece a relação. Não é isso o e-mail? Que é como quem diz: uma troca de informação real, directa e instantânea, entre dois sujeitos reais cujos lugares físicos só comunicam pela própria mensagem que os une, isto é, virtualmente.
5. O virtual obriga-nos a pensar a dimensão de ausência que existe em qualquer presença. Difícil? Talvez. O certo é que essa é uma das questões nucleares da cultura popular dos nossos dias, em conflito com a cultura virtual das telenovelas. Exemplo? O filme Matrix, de Larry & Andy Wachowski, prodigiosa aventura mais ou menos futurista sobre o real como ausência: as personagens olham à volta e aquilo que vêem, tocam e comem não está lá, quer dizer, não passa de um programa de computador.
6. Novidade? Sim, mas pouco. A rádio e a televisão são também matrizes de comunicação que trabalham com o que não está presente: na rádio, está o som, mas não o instrumento que o produz; na televisão, está também a imagem, mas não o corpo que a ocupa. Dir-se-ia que a revolução do virtual não passa da continuação do século XX por outros meios.
7. Keanu Reeves (na foto) e Carrie-Anne Moss definem o mais belo par destas realidades virtuais: austeros na pose, sensuais nos gestos, de um pudor geométrico, discretamente perverso. Há, então, um erotismo virtual? Sim, porque o desejo estabelece sempre uma relação com algo que está ausente, mesmo quando não o sabemos - a surpresa do virtual é ainda a vibração do humano.
(João Lopes in Diário de Notícias de 17/7/99)
||| O texto Filosofia da Idade Contemporânea aponta a filosofia de Hegel (e as reacções contra ela -- nomeadamente, a do "vitalismo de Nietzsche") como uma das linhas fundamentais da filosofia contemporânea.
Ver o verbete Nietzsche e
o texto Nietzsche, um
filósofo actual.
[Actualização a
03/02/19]
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