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O "Dilema do Prisioneiro", na sua versão clássica ou em sua versão modificada
(possibilidade de interação), tem sido usado para estudar o problema da
cooperação entre indivíduos, grupos e nações em diversos tipos de
problemas.
A sua Segunda variante:
Na Rússia após a Revolução Comunista,
os caras resolveram fazer uma coisa chamada expurgo. Seria uma limpeza, só que
no caso seria gente indo pro paredão (fuzilamento). Com um processo penal. Por
qual crime? Conspiração. Pra fazer o que? Isso não tem importância, o importante
é que o sujeito estava planejando um crime qualquer contra a revolução
comunista. E esse crime é qualquer coisa que os caras pensem que justifica algum
fracasso político, tipo a produção de carne caiu pela metade. Então imagina a
cena, o sujeito no trem, chega o cara da KGB e fala:
- Você é Tschaikowski. Isso na sua maleta é um código secreto. Vamos para o
Comitê resolver esse assunto.
- Não, eu não sou Tschaikowski, esse cara está
morto. Eu sou músico e isso é uma partitura. Você cometeu um erro.
- Ok, quer
ser julgado também por resistência a prisão? Quer sugerir que a KGB não é
infalível? Sua carteirinha do Partido.
- Aqui está.
- Siga-me.
Na KGB, o sujeito é preso e fica algum tempo, dias na cela, esperando alguma informação sobre o que está acontecendo com ele (como naquele tempo, por conta da censura, ninguém sabia o que estava acontecendo, o "Tchaikowski" também não sabe). Notou alguma informação? Chega o superior lá do cara e conversa com o elemento.
- Mil desculpas pelo tempo que fizemos você esperar. Acontece que prendemos
um sujeito, chamado Dostoievsky, um inimigo da Pátria, traidor da Revolução. Ele
acusou você de ser Tchaikowski. Nós podemos continuar procurando provas pra
incrimina-lo e manda-lo para o castigo que merece, porém pode ser meio demorado.
Você teria que ficar preso aguardando a impugnação do depoimento dele. Por outro
lado..
- Qual a alternativa?
- Você poderia assinar um depoimento
atestando que conhece Dostoievski e que se trata realmente de um inimigo do
povo. Como colaborou com a prisão de um traidor, você seria beneficiado, o juiz
consideraria sua colaboração e acabaríamos logo com tudo isso.
Qual a moral
da história? Não tem moral. Para fins de estudo da mentalidade humana, o estudo
do "Dilema do Prisioneiro" começa aqui. Se o sujeito assina o papel, na verdade
ele está se incriminando, do ponto de vista legal. Como dizem pra ele que tem um
cara que já mandou ele pra fogueira, há uma forte tendência de que ele
ingenuamente assinaria, a não ser que fosse bem contra mentiras. É uma historia
sem final. Cada caso é um caso. Mas onde é que estaria o erro?
Acreditar na
palavra do agente da KGB, sem analisar os detalhes.
Ao falar que o
"Tschaikowski" poderia se beneficiar, a palavra chave é "seria". "Seria" é
diferente de "será". Entregar uma pessoa que não conhece é crime de difamação. E
o cara, ao assinar um depoimento sem nem ter visto a figura, está na verdade
aceitando participar de um crime. Só pra se ter uma idéia mais interessante da
coisa? E se o cara acusado de ser "Dostoievsky" na verdade for sobrinho de
alguém importante?
Se o cara acreditasse na história, teria acreditado numa
ilusão, mas assinado talvez a própria sentença de morte.
Se você esta no
lugar daquele personagem, está na pior. Alguém aparece e diz que quer lhe
ajudar, mas é uma engano. Como você quer ser ajudado, você precisa acreditar que
alguém vai te ajudar, então você resolve acreditar que aquilo que estão te
falando é uma ajuda.
Não se trata de engano e sim de desinformação.
Na
verdade, não é preciso procurar muito longe para achar outros dilemas do
prisioneiro na vida diária. Se tiver chance, você fura uma fila? Qual é sua
reação àquelas insistentes campanhas de doação de sangue veiculadas em rádio e
televisão? Você lida com os seus problemas no escritório através da omissão ou
da responsabilidade?
Se você com o seu carro encostar em uma reluzente BMW.
Ninguém viu. Provavelmente reparar aquele arranhado vai lhe custar muito. Claro
que quem anda com um carro daqueles tem seguro. Se fosse para agir de uma
maneira correta você deixaria um bilhete com seu nome e número informando ao
dono que você arcaria com as despesas. A mais lógica, sair dali o mais rápido
possível para que ninguém veja e anote a placa de seu carro. Em cada caso, você
se defronta com um problema similar ao do prisioneiro: você realmente se sai
melhor ao optar pelo comportamento egoísta?
O dilema é que a escolha não
pode ser feita no terreno puramente racional. Para ver o porquê, vamos retornar
ao nosso cenário inicial. Olhando por um lado, você se sai melhor confessando
mas, por outro lado, você se sai melhor ficando quieto. Aqui estão as
possibilidades organizadas em ordem:
Obviamente, para você, o melhor resultado possível é você confessar e seu
parceiro ficar calado. (Na linguagem da teoria do jogo, salvar sua própria pele,
sem se importar com mais nada, é chamado "defecção".) E até mesmo se seu
parceiro confessar, você ainda lucra por defectar, já que, se permanecer em
silêncio, você pegará três anos de cadeia, enquanto que confessando você só vai
pegar dois. Em outras palavras, seja qual for a opção do seu parceiro (e você
não tem jeito de saber a decisão dele), você se sai melhor defectando.
Porém,
se seu parceiro for tão esperto quanto você, ele vai chegar à mesma conclusão: a
escolha racional é confessar. Essa lógica vai, dessa forma, proporcionar a ambos
dois anos na cadeia. Será que isso é realmente "racional" quando, se ambos
ficassem calados ("cooperação"), cada um poderia pegar apenas um ano? No geral,
a cooperação mútua é o melhor, já que a quantidade total de tempo que ambos
pegariam seria de dois anos em vez de três ou quatro.
Então, você deve
cooperar, certo? Bem, suponhamos que o seu parceiro não chegue a essa conclusão,
ou que ele chegue, mas decida se aproveitar de sua confiança, defectando. Neste
caso, você terá que encarar o pior resultado possível: três anos vendo o sol
nascer quadrado. O que vai ser: você confia nele ou não? O que é mais racional,
cooperação ou defecção?
Esse problema e outros similares são provenientes da
teoria do jogo, uma invenção do matemático John von Neumann (1903-1957). Von
Neumann, um prodigioso húngaro que se estabeleceu nos EUA, ajudou a desenvolver
a bomba-A e, entre outras realizações, inventou o computador digital. Ele também
amava os jogos de estratégia, especialmente pôquer e xadrez, e lá pelos anos de
1920 e 1930, desenvolveu uma teoria matemática para descrever suas estruturas.
Von Neumann fez isso, de certo modo, para melhor entender os jogos, mas
principalmente porque acreditava que a teoria do jogo poderia prover uma base
científica para o estudo de situações similares em outros campos. Ele cunhou o
termo "teoria do jogo" em The Theory of Games and Economic Behavior (1944, com
Oskar Morgenstern). O comportamento econômico é um "jogo", no sentido mais amplo
dado por Neumann: uma situação definida por interesses competitivos, em que cada
um procura maximizar seus ganhos.
A teoria do jogo foi um fracasso para os
economistas, mas terminou sendo útil para outras áreas. Depois da Segunda
Guerra, Neumann foi contratado pela Rand Corporation, onde aplicou a teoria do
jogo mais produtivamente na estratégia da Guerra Fria. Recue no tempo até os
anos cinqüenta e imagine-se tendo que decidir se os Estados Unidos deveriam
construir um arsenal de bombas-H. Vamos supor que a União Soviética, o
"inimigo", seja perfeitamente capaz de fazer o mesmo. Suas possíveis escolhas
são duas: construir o arsenal ou não construir. Existem quatro resultados
possíveis:
· 1. Nem os EUA nem a URSS constróem um arsenal - o status que é
preservado.
· 2. Os USA constróem um arsenal mas a URSS, não - os EUA ficam
em posição de potencialmente destruir a União Soviética e dominar o mundo.
·
3. A URSS constrói um arsenal mas os EUA, não - os soviéticos ficam em posição
de potencialmente destruir os USA e dominar o mundo.
· 4. USA e URSS
constróem arsenais - uma corrida armamentista, nenhum lado domina, muito
dinheiro é gasto e o mundo inteiro agora encara a possibilidade de uma
devastadora guerra nuclear.
Se você analisar esse "jogo", vai constatar que
é um tipo de dilema do prisioneiro. Não importa o que a URSS faça, a melhor
vantagem para os EUA é construir bombas. (Se ela não o fizer, os EUA se tornarão
o poder mundial supremo; se ela o fizer, os EUA, pelo menos, ficam empatados com
ela.) Mas, se os soviéticos chegarem à mesma conclusão, ambos irão gastar
toneladas de dinheiro só para manter o equilíbrio de poder, enquanto acumulam
estoques de matéria-prima radioativa. O resultado ideal seria a "cooperação":
cada lado se refrear (possibilidade I). Mas você confia no outro lado? No final,
nenhum dos dois confiou.
Embora Von Neumann tenha iniciado a teoria do jogo
na RAND, não foi ele quem descobriu o dilema do prisioneiro nem foi ele quem
estudou suas implicações. Von Neumann concentrou-se quase que exclusivamente no
que chamou de "jogos de tudo-ou-nada". Nestes jogos, o total da remuneração é
fixo, e o que um adversário ganha é necessariamente o que o outro perde. A
maioria dos jogos de mesa, por exemplo, são tudo-ou-nada: se o seu adversário
vence, você perde. O pôker também é um tudo-ou-nada: o vencedor leva tudo.