O chamado "Dilema do Prisioneiro" foi apresentado pela primeira vez na Universidade de Princeton em 1950, como um exemplo da teoria dos jogos.
É um tipo de simulação para entender o comportamento do ser humano que consiste no seguinte: a polícia prende dois indivíduos suspeitos de cometerem um crime leve e os coloca em duas celas separadas, sem possibilidade de comunicação entre eles. O detetive suspeita que um deles cometeu também um segundo crime mais grave e faz uma proposta. Quem denunciar o outro e der as pistas para a condenação fica livre, enquanto o outro pega cinco anos de pena e paga uma multa. Se os dois se acusarem mutuamente, os dois pegam três anos. Se os dois ficarem calados, eles só serão acusados do primeiro crime, e os dois pegam um ano de cadeia cada um.

O "Dilema do Prisioneiro", na sua versão clássica ou em sua versão modificada (possibilidade de interação), tem sido usado para estudar o problema da cooperação entre indivíduos, grupos e nações em diversos tipos de problemas.
A sua Segunda variante:
Na Rússia após a Revolução Comunista, os caras resolveram fazer uma coisa chamada expurgo. Seria uma limpeza, só que no caso seria gente indo pro paredão (fuzilamento). Com um processo penal. Por qual crime? Conspiração. Pra fazer o que? Isso não tem importância, o importante é que o sujeito estava planejando um crime qualquer contra a revolução comunista. E esse crime é qualquer coisa que os caras pensem que justifica algum fracasso político, tipo a produção de carne caiu pela metade. Então imagina a cena, o sujeito no trem, chega o cara da KGB e fala:

- Você é Tschaikowski. Isso na sua maleta é um código secreto. Vamos para o Comitê resolver esse assunto.
- Não, eu não sou Tschaikowski, esse cara está morto. Eu sou músico e isso é uma partitura. Você cometeu um erro.
- Ok, quer ser julgado também por resistência a prisão? Quer sugerir que a KGB não é infalível? Sua carteirinha do Partido.
- Aqui está.
- Siga-me.

Na KGB, o sujeito é preso e fica algum tempo, dias na cela, esperando alguma informação sobre o que está acontecendo com ele (como naquele tempo, por conta da censura, ninguém sabia o que estava acontecendo, o "Tchaikowski" também não sabe). Notou alguma informação? Chega o superior lá do cara e conversa com o elemento.

- Mil desculpas pelo tempo que fizemos você esperar. Acontece que prendemos um sujeito, chamado Dostoievsky, um inimigo da Pátria, traidor da Revolução. Ele acusou você de ser Tchaikowski. Nós podemos continuar procurando provas pra incrimina-lo e manda-lo para o castigo que merece, porém pode ser meio demorado. Você teria que ficar preso aguardando a impugnação do depoimento dele. Por outro lado..
- Qual a alternativa?
- Você poderia assinar um depoimento atestando que conhece Dostoievski e que se trata realmente de um inimigo do povo. Como colaborou com a prisão de um traidor, você seria beneficiado, o juiz consideraria sua colaboração e acabaríamos logo com tudo isso.
Qual a moral da história? Não tem moral. Para fins de estudo da mentalidade humana, o estudo do "Dilema do Prisioneiro" começa aqui. Se o sujeito assina o papel, na verdade ele está se incriminando, do ponto de vista legal. Como dizem pra ele que tem um cara que já mandou ele pra fogueira, há uma forte tendência de que ele ingenuamente assinaria, a não ser que fosse bem contra mentiras. É uma historia sem final. Cada caso é um caso. Mas onde é que estaria o erro?
Acreditar na palavra do agente da KGB, sem analisar os detalhes.
Ao falar que o "Tschaikowski" poderia se beneficiar, a palavra chave é "seria". "Seria" é diferente de "será". Entregar uma pessoa que não conhece é crime de difamação. E o cara, ao assinar um depoimento sem nem ter visto a figura, está na verdade aceitando participar de um crime. Só pra se ter uma idéia mais interessante da coisa? E se o cara acusado de ser "Dostoievsky" na verdade for sobrinho de alguém importante?
Se o cara acreditasse na história, teria acreditado numa ilusão, mas assinado talvez a própria sentença de morte.
Se você esta no lugar daquele personagem, está na pior. Alguém aparece e diz que quer lhe ajudar, mas é uma engano. Como você quer ser ajudado, você precisa acreditar que alguém vai te ajudar, então você resolve acreditar que aquilo que estão te falando é uma ajuda.
Não se trata de engano e sim de desinformação.
Na verdade, não é preciso procurar muito longe para achar outros dilemas do prisioneiro na vida diária. Se tiver chance, você fura uma fila? Qual é sua reação àquelas insistentes campanhas de doação de sangue veiculadas em rádio e televisão? Você lida com os seus problemas no escritório através da omissão ou da responsabilidade?
Se você com o seu carro encostar em uma reluzente BMW. Ninguém viu. Provavelmente reparar aquele arranhado vai lhe custar muito. Claro que quem anda com um carro daqueles tem seguro. Se fosse para agir de uma maneira correta você deixaria um bilhete com seu nome e número informando ao dono que você arcaria com as despesas. A mais lógica, sair dali o mais rápido possível para que ninguém veja e anote a placa de seu carro. Em cada caso, você se defronta com um problema similar ao do prisioneiro: você realmente se sai melhor ao optar pelo comportamento egoísta?
O dilema é que a escolha não pode ser feita no terreno puramente racional. Para ver o porquê, vamos retornar ao nosso cenário inicial. Olhando por um lado, você se sai melhor confessando mas, por outro lado, você se sai melhor ficando quieto. Aqui estão as possibilidades organizadas em ordem:


Obviamente, para você, o melhor resultado possível é você confessar e seu parceiro ficar calado. (Na linguagem da teoria do jogo, salvar sua própria pele, sem se importar com mais nada, é chamado "defecção".) E até mesmo se seu parceiro confessar, você ainda lucra por defectar, já que, se permanecer em silêncio, você pegará três anos de cadeia, enquanto que confessando você só vai pegar dois. Em outras palavras, seja qual for a opção do seu parceiro (e você não tem jeito de saber a decisão dele), você se sai melhor defectando.
Porém, se seu parceiro for tão esperto quanto você, ele vai chegar à mesma conclusão: a escolha racional é confessar. Essa lógica vai, dessa forma, proporcionar a ambos dois anos na cadeia. Será que isso é realmente "racional" quando, se ambos ficassem calados ("cooperação"), cada um poderia pegar apenas um ano? No geral, a cooperação mútua é o melhor, já que a quantidade total de tempo que ambos pegariam seria de dois anos em vez de três ou quatro.
Então, você deve cooperar, certo? Bem, suponhamos que o seu parceiro não chegue a essa conclusão, ou que ele chegue, mas decida se aproveitar de sua confiança, defectando. Neste caso, você terá que encarar o pior resultado possível: três anos vendo o sol nascer quadrado. O que vai ser: você confia nele ou não? O que é mais racional, cooperação ou defecção?
Esse problema e outros similares são provenientes da teoria do jogo, uma invenção do matemático John von Neumann (1903-1957). Von Neumann, um prodigioso húngaro que se estabeleceu nos EUA, ajudou a desenvolver a bomba-A e, entre outras realizações, inventou o computador digital. Ele também amava os jogos de estratégia, especialmente pôquer e xadrez, e lá pelos anos de 1920 e 1930, desenvolveu uma teoria matemática para descrever suas estruturas. Von Neumann fez isso, de certo modo, para melhor entender os jogos, mas principalmente porque acreditava que a teoria do jogo poderia prover uma base científica para o estudo de situações similares em outros campos. Ele cunhou o termo "teoria do jogo" em The Theory of Games and Economic Behavior (1944, com Oskar Morgenstern). O comportamento econômico é um "jogo", no sentido mais amplo dado por Neumann: uma situação definida por interesses competitivos, em que cada um procura maximizar seus ganhos.
A teoria do jogo foi um fracasso para os economistas, mas terminou sendo útil para outras áreas. Depois da Segunda Guerra, Neumann foi contratado pela Rand Corporation, onde aplicou a teoria do jogo mais produtivamente na estratégia da Guerra Fria. Recue no tempo até os anos cinqüenta e imagine-se tendo que decidir se os Estados Unidos deveriam construir um arsenal de bombas-H. Vamos supor que a União Soviética, o "inimigo", seja perfeitamente capaz de fazer o mesmo. Suas possíveis escolhas são duas: construir o arsenal ou não construir. Existem quatro resultados possíveis:
· 1. Nem os EUA nem a URSS constróem um arsenal - o status que é preservado.
· 2. Os USA constróem um arsenal mas a URSS, não - os EUA ficam em posição de potencialmente destruir a União Soviética e dominar o mundo.
· 3. A URSS constrói um arsenal mas os EUA, não - os soviéticos ficam em posição de potencialmente destruir os USA e dominar o mundo.
· 4. USA e URSS constróem arsenais - uma corrida armamentista, nenhum lado domina, muito dinheiro é gasto e o mundo inteiro agora encara a possibilidade de uma devastadora guerra nuclear.
Se você analisar esse "jogo", vai constatar que é um tipo de dilema do prisioneiro. Não importa o que a URSS faça, a melhor vantagem para os EUA é construir bombas. (Se ela não o fizer, os EUA se tornarão o poder mundial supremo; se ela o fizer, os EUA, pelo menos, ficam empatados com ela.) Mas, se os soviéticos chegarem à mesma conclusão, ambos irão gastar toneladas de dinheiro só para manter o equilíbrio de poder, enquanto acumulam estoques de matéria-prima radioativa. O resultado ideal seria a "cooperação": cada lado se refrear (possibilidade I). Mas você confia no outro lado? No final, nenhum dos dois confiou.
Embora Von Neumann tenha iniciado a teoria do jogo na RAND, não foi ele quem descobriu o dilema do prisioneiro nem foi ele quem estudou suas implicações. Von Neumann concentrou-se quase que exclusivamente no que chamou de "jogos de tudo-ou-nada". Nestes jogos, o total da remuneração é fixo, e o que um adversário ganha é necessariamente o que o outro perde. A maioria dos jogos de mesa, por exemplo, são tudo-ou-nada: se o seu adversário vence, você perde. O pôker também é um tudo-ou-nada: o vencedor leva tudo.